segunda-feira, novembro 23, 2009

Blogs na educação

 
 

Sent to you by Suzana Gutierrez via Google Reader:

 
 

via Boteco Escola by jarbas on 20/11/09


Faz algum tempo que dei uma entrevista para a jornalista que cuidava da divulgação de um evento sobre tecnologia educacional. Infelizmente nada do que escrevi em resposta às perguntas que a moça me fez por escrito foi aproveitado. Eu não disse nada que pudesse dar manchete ou alimentar chamadas na direção das expectativas populares quanto a novas tecnologias. Essa é uma das dificuldades de conversa com quem só pensa em notícia, em vez de valorizar informação.

Numa das respostas, exemplifiquei meu modo de pensar com um longo comentário sobre uso de blogs em educação. Minha fala repete algumas coisas que já disse aqui no Boteco. Mas, há nela alguns aspectos novos. Para que minha proposta de conversa não se perca, e para obter feeback de alguns leitores que queiram prosear, aqui vai o que disse na ocasião:

[...]Pelo que escrevi até agora, a primeira pergunta não deveria ser uma indagação sobre imaginação pedagógica. Essa não é a questão central em usos das novas tecnologias da informação e comunicação em educação. O que está em jogo é uma compreensão do que é tecnologia educacional. Em conversas com meus alunos, tenho insistido numa definição enganosamente simples, a fórmula TC=F+I. Ou seja, Tecnologia Educacional (TC) é o resultado de uma fusão das ferramentas (F) com a imaginação (I). Simples uso de ferramentas não é tecnologia educacional. Em outras palavras, tecnologia educacional é conhecimento, não máquinas e equipamentos.

Temo que essa crítica ao deslumbramento satisfeito, que acha que materiais bem arrumados na Web, atividades de educação à distância, softwares de multimídia etc. são avanço tecnológico significativo, seja ignorada.  Ela não é óbvia, evidente. A convicção generalizada é a de que simples usos dos equipamentos é tecnologia. A imaginação é uma insigne ausente no caso.

Deixe-me apresentar um pequeno exemplo. Num trabalho de uso de blogs em educação, percebi que muitas pessoas simplesmente transcrevem textos didáticos para os posts. O resultado é uma obra sem agilidade, sem atração, sem a marca de conversação que caracteriza os weblogs.

Blogs são sobretudo espaços de encontro para a negociação de significados. Para que tal característica exista, é preciso que os textos possuam certas virtudes literárias. Mas não é só isso. Blogs são instrumentos numa rede de informação e comunicação. Por isso os textos precisam ser escritos com hiperlinks que bem aproveitem as informações disponíveis na Web. Mas isso não pode ser feito apenas "tecnicamente". Usar hiperlinks é atividade que supõe construção de textos com possibilidades de leituras em camadas. Por isso é preciso produzir textos que dêem ao leitor possibilidades de explorar o ambiente informativo da Web (tal circunstância muda muito como escrever; produzir textos para serem colocados numa tela e, além disso, ligados a muitos outros textos ao alcance de uma clicada muda muito (ou deveria) o ato de escrever).

Exige-se aqui um discurso diferente daquele produzido em papel. E mais, o autor precisa construir um texto integrado com possíveis imagens. Outra coisa, comunicações em blogs são convites para uma conversa; o autor, portanto, precisa pensar em iniciar algo que terá desdobramentos nos comentários feitos por outros. Os comentários, no geral difíceis de prever quanto a conteúdo, ênfases, estilos etc, farão parte de uma obra que sempre poderá ser revista, alterada, enriquecida pelo autor e pelos leitores. As ferramentas disponíveis possibilitam todas as coisas que mencionei aqui, mas concretizá-las depende de talento do autor ou autores.

Acrescento mais algumas considerações sobre os blogs. Aparentemente essa ferramenta é um local onde autores podem publicar textos na forma de diários. Por isso, muitos educadores vêem os blogs como um bom instrumento para desenvolver capacidades de redação. Mas a idéia é muito limitada.

Blogs são sobretudo um ponto de encontro, um espaço público de conversação. Assim, a melhor metáfora para os blogs não são os diários. É mais adequado pensar os blogs como locais onde as pessoas podem dizer a própria palavra. Eles, assim, podem ser comparados com a praça pública ("a praça é do povo") ou com a velha ágora grega, o local público onde os cidadãos se encontravam para exercer a democracia direta por meio da palavra e do voto. Outra possibilidade: os blogs se assemelham aos velhos cafés parisienses do século XIX, espaços públicos importantes onde a conversa era livre. Indo mais longe: blogs são como botecos, onde a conversa corre solta e onde qualquer assunto é bem vindo. A escrita, posts e comentários, os links, as imagens são apenas aparências que encobrem a realidade mais profunda dos blogs, um espaço virtual de encontros humanos.

Todas essas idéias sobre os blogs são frutos de criações que foram se desenvolvendo no tempo. Hoje, educadores que queiram utilizar blogs em seu ofício precisam saber que a ferramenta gerou um modo de comunicação inicialmente inesperado. As aparências enganam…


 
 

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